domingo, 28 de dezembro de 2008

AMERICA´S GREAT DEPRESSION

" But the worst is that people are incorrigible. After a few years they embark anew upon credit expansion, and the old story repeats itself."
Ludwig von Mises - Human Action

Esses longos feriados de fim de ano sempre propiciam ótimos momentos de reflexão para a esquisitíssima categoria de brasileiros (não devo estar sozinho...) que padecem de uma incontornável ojeriza à areia, bronzeador e multidões à beira mar. Desse modo, resolvi gastar uma parte do tempo livre lendo pela primeira vez uma obra de Murray Rothbard, economista norte-americano - infelizmente já falecido - afiliado à respeitabilís
sima linhagem da escola austríaca de economia. America´s Great Depression analisa os efeitos concretos das intervenções promovidas pelas autoridades monetária e pelo governo norte-americano nos primeiros anos da Grande Depressão, ainda durante o mandato de Herbert Hoover, o predecessor de Franklin D. Roosevelt. Embora este último tenha se tornado conhecido como o pai do New Deal, Rothbard demonstra convincentemente que a maior parte das políticas aplicadas por Roosevelt foram esboçadas e já estavam sendo aplicadas - embora com uma dose menor de radicalismo - sob o governo Hoover, o qual nunca demonstrou muita convicção, mesmo antes da crise, nos princípios do laissez - faire.

O mais interessante no livro é, logicamente, a apreciação do autor quanto às causas da crise e quanto à eficácia das políticas intervencionistas amplamente apresentadas como "solução" para a depressão econômica. Na visão de Rothbard - ou da escola austríaca, melhor dizendo - o boom econômico que precede uma depressão é causado por uma política monetári
a frouxa (easy money) insistentemente perseguida pelos bancos centrais (no caso americano, pelo Federal Reserve), a qual motiva uma expansão exagerada do crédito na economia acompanhada da conseqüente queda das taxas de juros no mercado de crédito, que por sua vez distorce os cálculos econômicos dos empreendedores, pois leva-os a alocar fatores de produção escassos em projetos para os quais não há uma real demanda de consumo. Aqui é preciso ter em mente que para a escola austríaca a taxa de juros é uma expressão das preferências de tempo dos consumidores - uma queda na preferência de tempo , i.e., uma propensão à adiar o consumo presente em prol do consumo futuro leva a uma maior disponibilidade de capital na economia; o contrário ocorre quanto há uma elevação preferência de tempo e os consumidores preferem incrementar o consumo presente em detrimento do consumo futuro. Dessa feita, a expansão artificial do crédito - ou seja, uma expansão do crédito sem a correspondente expansão do capital realmente disponível na economia, posto que não houve uma diminuição nas preferências de tempo dos consumidores - fatalmente leva a uma onda de maus investimentos que não obstante a improdutividade (subprime loans, por exemplo...) acabam por retirar da economia recursos escassos que deixam de ser empregados em áreas onde teriam uma maior utilidade.

Como o processo de inflação artificial do crédito não pode prosseguir indefinidamente, pois é impossível sustentar para sempre a operação deficitária dos empreendimentos cuja rationale está calcada em um avaliação errônea das preferências de consumo, a bolha um dia estoura e o processo de ajuste tem início: os bancos comerciais tornam-se muito mais seletivos na concessão de crédito; empresas financeiramente frágeis quebram; o produto interno se retrai; o desemprego aumenta; uma deflação generalizada de preços (das matérias primas e demais fatores de produção, de bens intermediários e de bens de consumo) tem início
; bancos assolados pela inadimplência do crédito facilmente concedido quebram; uma crise de confiança no sistema bancário se instala; no limite a população perde a confiança na moeda... Esse cenário horrendo e invariavelmente temido por todos é, porém, um mal necessário, pois a depressão que se segue ao boom nada mais é do que o ajuste natural pelo qual economia tem que passar no seu retorno à normalidade.

Rothbard nota que em crises anteriores à de 1929 o processo de ajuste sempre foi rápido e intenso, com a economia retornando à normalidade após 18 meses em média. A depressão econômica que se seguiu ao estouro da bolha de crédito em 29, no entando, durou quase 10 anos! Porquê? Na melhor tradição liberal, Rothbard demonstra com argumentos bastante verossímeis que as sucessivas intervenções do FED e do Governo no sentido de conter os efeito do ajuste (p.ex., insistindo em uma política monetária inflacionária
- que foi a própria causadora da crise; estabelecendo controles de preços; concedendo subsídios a determinados setores econômicos e impedindo um reajuste nos níveis salariais para readequa-los à deflação de preços), apenas tiveram o condão de prolongá-lo por um período muito superior ao necessário. Isso além de contribuir para agravar a sua intensidade (com efeito, a manutenção dos salários nominais em níveis estáveis contribuiu enormemente para os recordes de desemprego registrados no período).

Avançando a história para a primeira década século XXI, é impossível negar o acerto da observação de Mises que epigrafa este post: a mesma expansão irresponsável do crédito, estimulada a torto e a direito pelas autoridades monetárias ávidas pelo reconhecimento político imediato resultante do "progresso" econômico e aplaudida, também a torto e a direito, por empreendedores e líderes empresariais (afinal, é de sua natureza gostar de crédito fácil) está na raiz da atual crise e agora resta passar pelo doloroso processo de ajuste, até que a economia retorne à normalidade e os bancos centrais dêem início a uma nova inflação de crédito...

Voltando um pouco ao mercado financeiro, postei ao lado o gráfico semanal do DJI, mostrando o comportamento do índice durante os anos mais agudos da crise. Note-se o pico de 386 pontos atingido em 03/09/1929, a suave correção que a princípio se seguiu e o pânico instalado a partir de 21/10/1929, com a perda do suporte situado e
m 316 pontos. A partir daí a tendência de queda prosseguiu firme até o fundo de 40 pontos atingido em maio de 1932 ( no total, 33 meses do pico ao fundo). Nesse ponto - muito antes, portanto, da recuperação da economia como um todo - o Dow Jones iniciou um movimento clássico de reversão em quatro etapas: 1. Atinge o fundo propriamente dito; 2. Faz um repique corretivo - até aí igual a qualquer outro; 3. Volta a cair, mas faz um fundo superior ao fundo anterior e 4. retoma o movimento de alta, ultrapassando com segurança o pico formado no repique (02). Obviamente, quem entrou comprando a partir do ponto 4, não dever ter tido muitos motivos para continuar a reclamar da vida... Extrai-se daí uma importante lição, que todo a investidor deve lembrar em momentos de crise: assim como o mercado de ações desconta abruptamente o preço de todos os ativos no início do ajuste econômico que se segue ao boom, ele também tende a antecipar - às vezes em vários anos, como no caso de 1929 - a retomada da normalidade. Os momentos de maior desesperança do público podem ser justamente os mais favoráveis para os investidores com a cabeça no lugar, atentos aos sinais da virada no mercado.

domingo, 14 de dezembro de 2008

LÍDERES DO MERCADO

As tendências de alta e de baixa no mercado não se desenvolvem linearmente, em um único movimento. Elas são normalmente permeadas por repiques de curta e média duração e, às vezes, brevemente interrompidas por movimentos laterais de acumulação. Em uma tendência de baixa, os repiques de maior intesidade costumam formar caprichosas arapucas para invesdidores desavisados, que os tomam como um indicativo de reverão rumo à uma nova tendência de alta. Pois bem, alguns ativos-líderes do mercado brasileiro estão esboçando uma configuração gráfica propícia a despertar um ingênuo otimismo, na base do "o pior já passou", pois parecem estar prestes a ingressar em um repique intermediário de mediana intensidade - como é comum acontecer em meio às tendências de baixa mais fortes.

Observa-se essa dinâmica nos gráficos semanais de PETR4
e GGBR4. Ambas sinalizaram um esgotamento da primeira perna de baixa, conforme indicamos pelo traços em vermelho: um fundo seguido de um rápido repique e de nova precipitação para um fundo superior ao anterior; por fim, um repique superando o topo do repique anterior, o que indica que estes papéis estão - muito provavelmente - ingressando na fase inicial de um repique intermediário de maior extensão, que pode durar algumas semanas. VALE5, por sua vez, apresenta uma situação diferente: o papel está desenvolvendo uma congestão lateral com um suporte já aparentemente bem definido (linha vermelha), mas ainda sem uma resistência claramente delimitada, o que recomenda que se aguarda uma definição mais clara de comportamento para o curto prazo.

Obviamente, não há nada de errado em tentar aproveitar um repique intermediário dentro de uma tendência de baixa, desde que se tenha sempre em mente que se trata de um repique, ou seja, operá-lo demanda redobrados cuidados no que toca ao manejo de risco (sugiro reduzir a exposição de risco pela metade) e o uso de sto-loss e trailing stops mais curtos, uma vez que a tendência principal de baixa pode ser retomada abruptamente, sem aviso prévio.


domingo, 7 de dezembro de 2008

IBOVESPA vs DOW JONES

O comportamento dos principais índices do mercado de ações tende a refletir muito mais as expectativas dos agentes econômicos quanto ao comportamento futuro da economia do que a retratar a situação presente. Por isso não é de se estranhar que a divulgação de dados que confirmam a gravidade da recessão nos EUA e traçam um cenário bem pouco animador para a economia brasileira no próximo ano, acabou por não se refletir em novos fundos no Dow Jones e no Índice Bovespa. Percebe-se claramente nos gráficos semanais ao lado que ambos os índices atingiram seus objetivos técnicos (os quais, aliás, já foram objeto de cometários no post de 19/10).

O DJI estancou a queda justamente na linha de suporte que vem segurando suas correções desde junho de 1997, ao redor dos 7400 pts. Note-se que desde essa época o DJI parece ter entrado em uma enorme distribuição lateral, alternando ciclos de alta e baixa de média duração. Primeiro uma alta que se estendeu de outubro de 1998 a janeiro de 2000, a partir daí uma baixa que durou exatos três anos, até janeiro de 2003, seguida por um novo ciclo de alta entre março de 2003 e outubro de 2007, quando teve início novo ciclo de baixa. O investidor norte-americano que empregou uma estratéria de buy and hold - pensando no longo prazo, como recomendam os empertigados conselheiros financeiros -, portanto, acabou ficando uma década quase sem ganhos, isso se comprou próximo do suporte ( e são poucos os que o fazem), já se comprou em meio aos ciclos de alta, o prejuízo está garantido.

O IBOV, por sua vez, está em claro ciclo de alta de longo prazo e a correção iniciada em junho de 2008 trouxe o índice de volta para LTA que dá suporte a esta alta. Note-se a expressiva queda no volume financeiro a partir do mês de outubro, o que pode ser um indicativo de que a primeira etapa da correção está se prestes a se esgotar e de que estamos próximos de um repique de maior intensidade.