sexta-feira, 29 de maio de 2009

FUTUROS-MINI NA BM&F - II

Cerca de um mês atrás comecei o que deve ser uma série de posts sobre os mercados futuros. Limitei-me a uma singela explicação sobre alguns mecanismos operacionais dos contratos mini negociados no pregão da BMF. Neste segundo post sobre o assunto, pretendo aprofundar um pouco mais o exame sobre aspectos estruturais do funcionamento destes mercados.

Um ponto importante a ser considerado é a função econômica dos futuros: sua função principal não é a de empobrecer especuladores tão encantados com as maravilhas da alavancagem financeira quanto irresponsáveis com o manejo de risco,
embora eles o façam com invejável rapidez e eficiência. Eles também não foram criados para enriquecer especuladores mais sóbrios e cientes do que estão fazendo quando os operam. Os mercados futuros, antes de qualquer outra coisa, atendem à uma necessidade muito especial na economia: a transferência de riscos. É por meio deles que, por exemplo, os consumidores de hard commodities - metais, produtos agrícolas, petróleo, etc. - podem precaver-se contra altas abruptas nos preços dos seus insumos, abrindo posições compradas em contratos cuja liquidação se dará em algum momento futuro. No sentido contrário, os produtores destas commodities podem precaver-se de uma queda abrupta nos seus preços à vista, abrindo posições vendidas em futuros. Permitir que se façam operações de hedge com facilidade e de forma barata é, assim, a atribuição par excelence dos mercados futuros.

Agora, se o hedger busca se precaver de variações de preços, alguém precisa se apresentar para tomar os riscos que o hedger não quer ou não pode tomar. Este alguém, claro, é o especulador, que assume os riscos esperando lucrar com isso. E há muitas maneiras de lucrar. Além das tradicionais posições unidirecionais compradas e vendidas, é possível montar inúmeras estratégias de arbitragem, buscando aproveitar anomalias no spread entre os preços das diversas datas de vencimento de um mesmo contrato. Em regra, os contratos com prazos de vencimento mais longos são mais caros, pois o seu valor incorpora os custos de carregamento - costs of carry - associados à liquidação do negócio em um período mais longo, tais como a taxa de juros em conta de margem ou os custos de estocagem, seguro e transporte de hard commodities.

Mas dependendo da situação do mercado, coisas interessantes podem começar a acontecer com o spread. Por exemplo, quando ocorre um choque negativo d
e oferta em um determinado mercado, os preços dos futuros podem começar a operar invertidos - backwardation, no jargão -, com os contratos mais recente cotados a valores mais altos do que os contratos para vencimentos mais distantes. Trata-se de uma ótima oportunidade para montar uma posição comprada unidirecional - pois um mercado operando invertido indica que uma tendência de alta deve perdurar por algum tempo - ou, alternativamente, montar uma posição de arbitragem, vendendo os contratos mais recentes e comprando os de prazo mais longo, na expectativa de um retorno à normalidade com a convergência dos preços.

No Brasil, as oportunidades para a montagem dessas estratégias s
ão escassas para o pequeno investidor em virtude das poucas opções de contratos disponíveis nos Futuros-Mini e do escasso volume de negociações, mas sempre vale a pena ficar de olho. Falando em ficar de olho, finalizamos o post com uma rápida análise dos futuros de Dólar e Boi Gordo. Em relação ao primeiro, observa-se que ocorreu o que já prevíamos com o rompimento do suporte situado em R$ 2,20: a moeda está em tendência de queda acelerada, buscando um novo patamar de preços, que pode acabar se fixando nos arredores de R$ 1,80 onde está situada uma antiga, porém tênue, resistência. Já o contrato futuro de Boi Gordo está em uma longa distribuição lateral, que teve início em setembro de 2008, na seqüência de uma prolongada alta. No momento o ativo está buscando a resistência situada em R$ 85,00 e será preciso aguardar uma definição de rompimento ou não para assumir uma nova posição (vendida em caso de falhar no rompimento, comprada em caso de rompimento bem sucedido).


terça-feira, 26 de maio de 2009

AGUARDEM

Prezados, infelizmente a correria dos últimos dias está me impedindo de atualizar o blog. Aguardem para sexta-feira ou sábado um post. Caprichado para compensar o atraso.

sábado, 16 de maio de 2009

DOW JONES e IBOVESPA

Já expliquei aqui neste blog que um dos aspectos chaves da minha técnica de investimento é que quando se toma decisões baseadas em pura análise técnica, a simplicidade é sempre uma grande aliada. Não chego a ser um fã incondicional da arquitetura moderna (não peçam minha indelicada opinião sobre as obras de Niemeyer), mas reconheço que Mies van der Rohe tinha lá suas boas razões para considerar que less is more - princípio que sigo ao pé da letra quando se trata de análise técnica. É por isso que meus leitores não encontram neste blog análises diárias e intraday: opero apenas no longo prazo, onde sinais de AT são muito mais seguros e permitem que as tendência realmente relevantes sejam capturadas. É por isso também que eles não encontram uma profusão de linhas de tendência, bandeiras, candles e mais mil e um indicadores técnicos sobrepostos ao gráfico.

Meu uso de indicadores técnicos é circunspecto. Jamais os utilizo para gerar sinais de entrada e saída, apenas como auxílios para interpretar os movimentos de preço, e é assim que vou proceder no post dessa semana. À esquerda temos o gráfico semanal - como sempre, não indexado e em escala logarítmica - do Índice Dow Jones. A novidade é que adicionei ao gráfico meu indicador de tendências favorito: o Moving Averages Convergence Divergence, vulgo MACD, um dos mais antigos e confiáveis indicadores da análise técnica. Uso o MACD para detectar divergência no gráfico semanal, as quais indicam possíveis pontos de esgotamento e reversão de uma tendência, como no ponto 1, onde os preços continuam a fazer novas altas enquanto e o indicador falha em acompanhá-las, gerando uma claríssima divergência de baixa. Aqui o indicador fez jus à fama de confiabilidade: a divergência foi nada mais nada menos do que o primeiro sinal da onda de baixa que teve inicio, no mercado norte- americano, em meados de 2007. Observa-se sinal semelhante no ponto 2, onde os preços continuam a fazer novos fundos, ao passo que o indicador falha em acompanhá-los, gerando uma divergência de alta que foi a primeira sinalização concreta de que um repique corretivo de maiores proporções estava próximo.

No Brasil, vemos a mesma dinâmica em ação no gráfico semanal do IBOV. O ponto 1 assinala uma enorme divergência de baixa que foi se formando entre outubro de 2007 e maio de 2008, a qual marca o início da correção técnica de grandes proporções pela qual estamos passando. Notem, todavia, que o indicador, embora confiável quando bem utilizado, não é dotado das propriedades mágicas de uma bola de cristal. O esgotamento da primeira - e possivelmente a mais severa - etapa de baixa dentro da correção, não foi marcada por uma divergência de alta, havendo apenas a confirmação - aliás, algo tardia, com é praxe em indicadores de tendência - dada pelo cruzamento da linha de sinal. É por isso que um indicador não pode ser tomado como substituto do acompanhamento da movimentação das barras de preço - a boa técnica de AT recomenda que primeiro se analise os movimento de preço e volume e depois se agregue um indicador para auxiliar na interpretação desses movimentos.

sábado, 9 de maio de 2009

SERÁ MESMO QUE O PIOR JÁ PASSOU?

Diante das recentes altas no Índice Bovespa, muitos amigos me perguntam por que insisto em caracterizá-la como um mero repique intermediário e não como a retomada da tendência de alta de longo prazo. O argumento sobre o qual, no mais das vezes implicitamente, apóia-se o questionamento é de que "o pior já passou" e, portanto, já estaríamos presenciando uma retomada consistente. A razão para o meu ceticismo é que dadas as premissas da análise técnica, é muito improvável que já tenhamos chegado ao fim da correção no mercado de ações. Explico: os ciclos de alta são entremeados por freqüentes correções de variada intensidade e é comum que as correções mais intensas sejam elas própria entremeadas por repiques altistas. Embora eu não seja adepto da contagem de ondas, é um fato observável que que as correções tendem a se desenvolver em três etapas: 1) uma primeira queda; 2) um repique intermediário de média intensidade e 3) mais uma queda que pode, inclusive, levar os preços para um fundo abaixo daquele formado pela primeira.

Se observarmos o gráfico mensal - em escala logarítmica e não indexada - do IBOVESPA, veremos claramente que o nosso mercado está passando por uma forte correção que, em sua primeira etapa, o trouxe para as proximidades da linha de tendência que marca os fundos formados ao longo do presente ciclo de alta de longo prazo. A análise técnica observa as oscilações dos preços para tentar identificar padrões de comportamento dos investidores, os quais tenham tendência a se reproduzir. Neste sentido, é muito reduzida a probabilidade de que a presente alta prossiga e supere o topo de 73.500 pontos sem antes passar por uma nova queda. É reduzida, porque a análise do histórico de comportamento dos mercados nos indica que as correções mais severas tendem a seguir o padrão de três etapas acima explicado.

Vamos ilustrar esse padrão com um exemplo tirado do nosso próprio
mercado: a correção ocorrida entre agosto de 1997 e maio de 1998, ainda nas fases inicias do atual ciclo. Observe-se o primeiro gráfico - semanal, não indexado e em escala logarítmica - , que mostra o topo de 14.005 pontos, atingido em maio/97, logo seguido por uma correção que formou um fundo em 7.560 pontos (-46%), patamar a partir do qual o IBOV ingressou em uma congestão lateral que rapidamente deu lugar à uma alta que o levou praticamente até os 12.000 pontos.

E depois? Depois se seguiu uma nova queda (terceiro gráfico), neste caso, ainda
mais violenta do que a primeira, a qual formou o fundo definitivo da correção à 4.575 pontos (- 63% em relação ao topo). Obviamente, não estou afirmando que tais números percentuais vão se reproduzir no cenário atual, apenas que a análise técnica faz suas estimativas amparada em analogias com eventos similares ocorridos no passado. Dessa feita, dados os padrões que costumam se formar nas correções similares à que estamos vivenciando, é no mínimo uma perigosa ingenuidade descartar sem mais nem menos a hipótese de estarmos em meio a um repique corretivo da tendência de baixa.

segunda-feira, 4 de maio de 2009

SEGUNDA LINHA EM REPIQUE

Os leitores que acompanham este blog a mais tempo já conhecem minha preferência por investir em ações que não integram o Índice Bovespa - os chamados papéis de segunda linha - de preferência no segmento de small e mid caps. Para que está disposto a pesquisar e a pensar por conta própria, este segmento oferece as melhores oportunidades de retorno sobre o capital investido, não sendo raros, em uma tendência de alta, casos de papéis que duplicam, triplicam ou quadruplicam de valor em poucos meses. O fato de estes papéis estarem, em regra, fora do radar dos bancos e grandes corretoras é, ao contrário do que se imagina, uma grande vantagem para o investidor independente, pois facilita o aproveitamento das inúmeras oportunidades que surgem neste segmento.

Por falar nelas, vamos prosseguir com a análise de três papéis q
ue estão permanentemente na minha lista de acompanhamento: WEGE3, ETER3 e CREM3, todos em gráficos semanais não indexados, em escala logarítmica. Em primeiro lugar, observamos o exemplar pivot de alta no papel da Weg - até parece saído de um bom manual de análise técnica! O volume financeiro em crescimento constante nas semanas que antecederam o rompimento do patamar de R$ 13,00 - fato que sinalizou a consolidação do repique - chama especialmente a atenção, pois indica um maior comprometimento dos investidores com o movimento de alta, o qual deve ainda ter um bom fôlego pela frente.

A situação não é muito diferente em Eternit, papel que v
em apresentando extremos de volatilidade desde julho de 2007. Esta volatilidade reflete-se na formação do pivot de alta do papel que atingiu sua mínima mais recente na faixa dos R$ 3,15, ponto a partir do qual teve início um movimento de alta que o levou até os R$ 5,15. Este patamar foi superado na primeira semana de março, confirmando-se, assim, o repique de alta. Note-se, porém, que o volume financeiro tem se mantido muito baixo, o que aliado à alta volatilidade - a qual demanda a colocação do stop loss a uma distância maior do ponto de entrada - reduz a atratividade do papel para investidores que - como este escriba - adotam um perfil mais conservador no gerenciamento de risco.

Por último, vemos o repique recém confirmado nas ações da Cremer
, papel que terminou a fase mais aguda da sua correção após fazer um fundo duplo entre outubro de 2008 e março deste ano - tão claro que também parece ter sido tirado de um manual de análise técnica. Aqui não se pode descartar completamente a possibilidade do segundo fundo ter marcado o final da correção, mas preferimos, por precaução, trabalhar ao menos por enquanto com a hipótese de que está em curso um repique e não uma novo ciclo de alta sustentável à longo prazo. Repique ou alta sustentável, o fato é que o sinal de confirmação para entrada veio com o rompimento do patamar de R$ 9,76 na última semana de abril, sendo preocupante apenas o baixíssimo volume financeiro que o impulsiona.