domingo, 15 de junho de 2008

A incerteza no mercado financeiro

No final do meu post da semana passada abordei um assunto que, apesar de sempre presente na conversa dos pequenos investidores, é freqüentemente envolto por uma névoa de mistificação e temor: a incerteza quanto ao comportamento dos preços. O risco de perda é inerente quando se investe nos mercados de ações e futuros e a reação que cada investidor apresenta diante dele é um seguro indicativo do seu grau de experiência, conhecimento e maturidade (e por conseqüência é também um indicativo da capacidade de o investidor ganhar dinheiro com consistência). Investidores inexperientes, imaturos ou que não conhecem o funcionamento do mercado tendem a adotar uma postura de avestruz: pretendem ignorar o risco enterrando a cabeça em argumentos do tipo “eu invisto para o longo prazo”; “o mercado é assim mesmo, cai, depois sobe”; “renda variável é isso aí, tem que ter estômago” e por aí vai a litania. Já uma categoria minoritária de investidores (os menos de dez por cento que ganham dinheiro ano após ano) adota uma postura bem mais sóbria, porque procuram em primeiro lugar conhecer a natureza e as características do risco de mercado e depois – já que não se pode evitá-lo – procuram discernir uma estratégia sólida para lidar com ele, tentando limitar o impacto de movimentos adversos sobre suas carteiras.

O primeiro passo, pois, para tirar a cabeça do buraco é compreender a natureza dos riscos de mercado e é sobre isso que vou falar hoje. O investidor precisa entender que, ao dar início a uma operação no mercado, não só é impossível prever o resultado (lucro ou prejuízo), mas – para piorar - é igualmente impossível prever a simples probabilidade estatística de ela vir a gerar lucro ou prejuízo. O que é verdadeiro para uma operação é também verdadeiro para uma série: é impossível prever as probabilidades futuras de ganho ou perda de uma série de operações em seqüência. É assim porque - como demonstrou Nicholas TALEB em The Black Swan - a espécie de incerteza que permeia o mercado financeiro - ou a vida em geral - é muito diferente da incerteza que você encontra em um jogo de dados ou em uma roleta de cassino.

No jogo de dados, na roleta ou em qualquer outro jogo de azar, o gerador (a fonte da incerteza) é conhecido e estável, logo as probabilidades de ocorrência de um determinado resultado podem ser precisamente calculadas a partir da observação de uma série de eventos. Por isso mesmo, o promotor desses jogos, - o cassino ou o administrador da loteria - sempre ganha no longo prazo – ele conhece o gerador e suas propriedades estatísticas e arma o jogo de modo a sempre sair ganhando sobre os esperançosos apostadores. É claro, de repente alguém vai ganhar 30 milhões na mega-sena acumulada, mas você já parou para pensar quanto a Caixa Econômica arrecada em cada rodada da mega-sena? Pode apostar que é muito, mas muito mais do que o prêmio pago.

No mercado financeiro porém, o gerador da variação de preços não apenas é desconhecido (são milhares de compradores e vendedores, cada qual com uma motivação diferente) como também é instável (a cada segundo novas pessoas, novos eventos e novas motivações influem sobre os preços de um ativo). Não é possível discernir todas as suas propriedades estatísticas, pois elas estão sempre variando, e é por isso que mesmo o mais sofisticado sistema de análise de probabilidades vai cedo ou tarde falhar quando aplicado ao comportamento de preços no mercado – um dia ainda vou comentar aqui o caso do LTCM, um fundo de investimentos assessorado por dois prêmios Nobel em economia que quebrou espetacularmente por causa da confiança excessiva dos gestores em modelos estatísticos “infalíveis”. Mas diante dessa dura realidade, o quê fazer para se proteger? Deixo esse assunto para um próximo post.

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