segunda-feira, 9 de junho de 2008

Petróleo: O mercado financeiro não é um cassino!

Acho curioso o argumento levantado por alguns (http://www.economist.com/finance/displaystory.cfm?story_id=11453090) de que a alta incessante no preço do petróleo deve-se à ação de especuladores buscando ganho fácil no mercado. Curioso o argumento, porque nunca são expostas – e muito menos analisadas - as duas premissas implícitas que o sustentam: a primeira premissa dá a entender que os especuladores ampliam a demanda por petróleo bruto comprando o óleo in natura e estocando-o para revendê-lo a um preço mais alto no futuro, assim eles seriam os responsáveis por criar uma escassez artificial que alimenta a espiral dos preços em benefício próprio; a segunda premissa é a de que existe ganho fácil no mercado financeiro, como se os especuladores fossem os donos de um imenso cassino onde a casa sempre ganha algum sobre otários que gostam de se divertir perdendo dinheiro. Porém, essas duas premissas são falsas

Em primeiro lugar, sabe-se - ou deveria-se saber - que toda especulação nesse mercado é feita com contratos futuros que permitem uma alavancagem financeira muito alta (atualmente de 14X1), além de a operação puramente financeira ser muito mais barata, rápida e fácil do que a compra, transporte e estocagem do óleo bruto. A coisa funciona da seguinte maneira: A Bolsa de Mercadorias de Nova York (NYMEX), dentre outras, negocia contratos para entrega futura de petróleo. Um especulador estimando que o preço do petróleo vai subir nos próximos meses pode comprar no dia 06.06.08 um contrato com vencimento no dia 18.05.09 Na data do vencimento o contrato é liquidado financeiramente pela diferença entre o seu valor na data da compra e o seu valor na data do vencimento. Todo os contratos são padronizados – cada um negocia 1.000 barris - e livremente negociados no pregão da bolsa, ou seja, o especulador pode vender o contrato e encerrar a operação a qualquer momento, mesmo antes do vencimento. Em nosso exemplo, digamos que o especulador comprou, na data indicada, o contrato ao preço de U$$ 137,00 por barril, num valor total de U$$ 137.000,00. Digamos também que no final do ano, em 15.12.08, o barril do petróleo bate na marca de US$ 200,00 e nosso especulador resolve encerrar a operação, pois já está satisfeito com o lucro auferido. Ele vende seu contrato no pregão da NYMEX e recebe a diferença entre o valor da aquisição e o valor de encerramento, ou seja, recebe US$ 63.000,00, sem nunca ter posto os olhos em um barril real de petróleo. Mas o mais interessante nessa operação é que para comprar o contrato futuro o especulador não precisou depositar U$$ 137.000,00 na conta do vendedor, pois a bolsa que intermedia a negociação exige apenas o depósito de U$$ 10.000,00 (uns 8% do valor total do contrato) como margem de garantia da operação e nada mais! É por isso que o mercado de futuros é o local de atuação dos especuladores, pois além de toda a praticidade de uma transação puramente financeira ele ainda permite uma excelente alavancagem de recursos: pense bem, com os US$ 137.000,00 necessários para comprar mil barris de petróleo in natura, é possível comprar dez contratos futuros no valor de U$$ 1.370.000,00 e multiplicar por dez os eventuais ganhos (e claro, multiplicar também por dez as eventuais perdas).

E agora chego à segunda premissa: no momento em que o especulador adquire o contrato futuro a U$$ 137,00 o barril ele só vai ganhar se o preço do petróleo subir. Mas quem garante que isso vai acontecer? Ninguém tem como garantir isso, porque a formação de preços no mercado é absolutamente imprevisível. É só pensar que a meros dois anos atrás era inimaginável a possibilidade do petróleo vir a ser negociado a mais de cem dólares o barril e no entanto ele vem sendo negociado consistentemente acima desse patamar nos últimos meses. Até quando? Quanto ainda vai subir? Vai continuar a subir? A única resposta honesta a estas questões é: não há como saber! No máximo é possível estimar que nas próximas semanas há uma probabilidade maior dos preços continuarem a subir do que de caírem e é com base nessa simples probabilidade que os especuladores operam e colocam o seu capital em risco constante para tentar obter um ganho. E ganhar dinheiro consistentemente, ano após ano, em condições de incerteza permanente certamente não é fácil, como podem atestar os mais de 90% de “especuladores” que deixam o mercado com uma mão na frente e outra atrás depois de tentarem a “sorte” por uns dois ou três anos. Apesar de ser um jogo de probabilidades, operar no mercado financeiro não é como comprar um bilhete de loteria ou apostar na roleta (ainda bem, pois se fosse, ninguém conseguiria ganhar nada no longo prazo), porque ganhar dinheiro com ele não depende de sorte, depende de domínio técnico, depende de um rígido controle de riscos e de um sangue frio glacial para executar estratégias de entrada e saída quase sempre completamente anti-intuitivas.

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