segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Dias de Pânico: Bovespa a 33.000 pontos?

"Any sudden event which creates a great demand for actual cash may cause, and wil tend to cause, a panic in a country where cash is much economised, and where debts payable on demand are large. In such a country an immense credit rests on a small cash reserve, and an unexpected and large diminution of that reserve may easily break up and shatter very much, if not the whole, of that credit.
WALTER BAGEHOT. Lombard Street.

BAGEHOT até hoje dá nome à uma coluna editoral do pres
tigiado semanário britânico no qual costumava escrever. Estou falando, é claro, da revista The Economist, que na edição da última quinta - feira publicou o que talvez seja a mais precisa e objetiva análise jornalística da crise que se aprofunda diante de nossos olhos. Nestes dias de pânico no mercado financeiro, em que o mundo parece prestes a desabar, é algo consolador olhar para traz - para o século XIX até - e observar que crises de pânico geradas pela falta de liquidez no sistema bancário são tão antigas quanto o capitalismo moderno, que não apenas sobreviveu à elas como delas saiu fortalecido rumo a novos ciclos de extraordinária expansão. A citação que abre este post poderia ter sido perfeitamente extraída do editorial publicado pela Economist no dia 02/10/08, mas eu preferi dotá-la de uma perspectiva histórica mais ampla e por isso retirei-a de uma das obras do mais venerável dos ex-editores daquela revista: retirei-a da terceira edição de Lombard Street - A description of the money market, publicada em maio de 1873! Como se vê, a experiência se repete: um século de crises financeiras várias e milhares de cursos de MBA não nos tornaram nem um pouco mais espertos do que nossos antecessores vitorianos...

Mas chega de falar do passado. No dia em que a BOVESPA rompeu con gusto o suporte situado em 41.000 pts., o que mais nos aguarda no mercado? Quem me conheçe sa
be que não faço previsões, pois estou convencido que fazer previsões sobre o futuro é coisa para charlatões, daqueles que volta e meia aparecem nos intervalos dos programas dominicais (quem não se lembra do Walter Mercado? Quem não se lembra de VALE5 a R$ 90,00 e de USIM5 a R$ 130,00 - garantido! - em dez/08?). O que eu procuro fazer, dentro das humildes limitações humanas que me são inerentes (infelizmente eu não tenho um MBA...), é análisar o mercado com objetividade e, baseado em certas constâncias no comportamento dos investidores, estimar cenários cuja ocorrência nunca é certa, mas apenas provável. Vamos lá então. Ao lado temos o gráfico mensal, não indexado e em escala logarítmica do IBOV. Tracei uma linha de suporte que sai do início do atual ciclo de expansão do mercado acionário brasileiro, iniciado em 1992 e prossegue até hoje. Observe-se que a partir de 2002 houve uma aceleração que levou os preços a se afastarem muito da LTA mensal. O movimento que estamos presenciando é uma aguda correção que está levando os preços de volta a patamares próximos à linha de tendência, que hoje passa por volta dos 33.000 pts. Os preços chegaram próximos à LTA em três ocasiões: em 1995, durante a crise mexicana, em 1998 e início de 1999, com a crise asiática e default russo (em todas o pânico foi agudo, como se pode observar pela volatilidade das cotações) e chegaram a rompê-la brevemente em 2002, na esteira de uma recessão moderada que se seguiu às referidas crises. A tomada de consciência pelos agentes econômicos da gravidade da crise atual (de longe a mais séria dentre as três citadas) está, assim, refletindo-se no comportamento dos ativos no mercado brasileiro e é bastante provável que o suporte dado pela LTA mensal venha a ser testado. É aguardar para ver o que acontece a partir daí.

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