domingo, 22 de junho de 2008

ÍNDICE BOVESPA


Temos acima o gráfico semanal do IBOVESPA – não indexado e em escala logarítimica – mostrando todo o atual ciclo de alta que se iniciou em outubro / novembro de 2002. Observamos que depois de uma distribuição que durou aproximadamente seis meses, de setembro de 2007 a março de 2008, os preços romperam a resistência e dispararam até o pico de 73.920 pontos antes de iniciar a esperada correção que vem testar a antiga resistência, agora transformada em suporte. Preocupa um pouco o fato do índice ter encerrado a semana na mínima e penetrando o suporte situado por volta de 66.000 pontos. Como análise técnica não é ciência exata – pois o comportamento dos preços é essencialmente imprevisível -, não se pode garantir que os preços retornarão ao patamar da congestão, mas convêm observar o comportamento do índice ao longo desta semana. Caso ele retorne para os níveis acima do suporte são boas as chances da tendência de alta voltar a seguir seu curso.

domingo, 15 de junho de 2008

A incerteza no mercado financeiro

No final do meu post da semana passada abordei um assunto que, apesar de sempre presente na conversa dos pequenos investidores, é freqüentemente envolto por uma névoa de mistificação e temor: a incerteza quanto ao comportamento dos preços. O risco de perda é inerente quando se investe nos mercados de ações e futuros e a reação que cada investidor apresenta diante dele é um seguro indicativo do seu grau de experiência, conhecimento e maturidade (e por conseqüência é também um indicativo da capacidade de o investidor ganhar dinheiro com consistência). Investidores inexperientes, imaturos ou que não conhecem o funcionamento do mercado tendem a adotar uma postura de avestruz: pretendem ignorar o risco enterrando a cabeça em argumentos do tipo “eu invisto para o longo prazo”; “o mercado é assim mesmo, cai, depois sobe”; “renda variável é isso aí, tem que ter estômago” e por aí vai a litania. Já uma categoria minoritária de investidores (os menos de dez por cento que ganham dinheiro ano após ano) adota uma postura bem mais sóbria, porque procuram em primeiro lugar conhecer a natureza e as características do risco de mercado e depois – já que não se pode evitá-lo – procuram discernir uma estratégia sólida para lidar com ele, tentando limitar o impacto de movimentos adversos sobre suas carteiras.

O primeiro passo, pois, para tirar a cabeça do buraco é compreender a natureza dos riscos de mercado e é sobre isso que vou falar hoje. O investidor precisa entender que, ao dar início a uma operação no mercado, não só é impossível prever o resultado (lucro ou prejuízo), mas – para piorar - é igualmente impossível prever a simples probabilidade estatística de ela vir a gerar lucro ou prejuízo. O que é verdadeiro para uma operação é também verdadeiro para uma série: é impossível prever as probabilidades futuras de ganho ou perda de uma série de operações em seqüência. É assim porque - como demonstrou Nicholas TALEB em The Black Swan - a espécie de incerteza que permeia o mercado financeiro - ou a vida em geral - é muito diferente da incerteza que você encontra em um jogo de dados ou em uma roleta de cassino.

No jogo de dados, na roleta ou em qualquer outro jogo de azar, o gerador (a fonte da incerteza) é conhecido e estável, logo as probabilidades de ocorrência de um determinado resultado podem ser precisamente calculadas a partir da observação de uma série de eventos. Por isso mesmo, o promotor desses jogos, - o cassino ou o administrador da loteria - sempre ganha no longo prazo – ele conhece o gerador e suas propriedades estatísticas e arma o jogo de modo a sempre sair ganhando sobre os esperançosos apostadores. É claro, de repente alguém vai ganhar 30 milhões na mega-sena acumulada, mas você já parou para pensar quanto a Caixa Econômica arrecada em cada rodada da mega-sena? Pode apostar que é muito, mas muito mais do que o prêmio pago.

No mercado financeiro porém, o gerador da variação de preços não apenas é desconhecido (são milhares de compradores e vendedores, cada qual com uma motivação diferente) como também é instável (a cada segundo novas pessoas, novos eventos e novas motivações influem sobre os preços de um ativo). Não é possível discernir todas as suas propriedades estatísticas, pois elas estão sempre variando, e é por isso que mesmo o mais sofisticado sistema de análise de probabilidades vai cedo ou tarde falhar quando aplicado ao comportamento de preços no mercado – um dia ainda vou comentar aqui o caso do LTCM, um fundo de investimentos assessorado por dois prêmios Nobel em economia que quebrou espetacularmente por causa da confiança excessiva dos gestores em modelos estatísticos “infalíveis”. Mas diante dessa dura realidade, o quê fazer para se proteger? Deixo esse assunto para um próximo post.

segunda-feira, 9 de junho de 2008

Petróleo: O mercado financeiro não é um cassino!

Acho curioso o argumento levantado por alguns (http://www.economist.com/finance/displaystory.cfm?story_id=11453090) de que a alta incessante no preço do petróleo deve-se à ação de especuladores buscando ganho fácil no mercado. Curioso o argumento, porque nunca são expostas – e muito menos analisadas - as duas premissas implícitas que o sustentam: a primeira premissa dá a entender que os especuladores ampliam a demanda por petróleo bruto comprando o óleo in natura e estocando-o para revendê-lo a um preço mais alto no futuro, assim eles seriam os responsáveis por criar uma escassez artificial que alimenta a espiral dos preços em benefício próprio; a segunda premissa é a de que existe ganho fácil no mercado financeiro, como se os especuladores fossem os donos de um imenso cassino onde a casa sempre ganha algum sobre otários que gostam de se divertir perdendo dinheiro. Porém, essas duas premissas são falsas

Em primeiro lugar, sabe-se - ou deveria-se saber - que toda especulação nesse mercado é feita com contratos futuros que permitem uma alavancagem financeira muito alta (atualmente de 14X1), além de a operação puramente financeira ser muito mais barata, rápida e fácil do que a compra, transporte e estocagem do óleo bruto. A coisa funciona da seguinte maneira: A Bolsa de Mercadorias de Nova York (NYMEX), dentre outras, negocia contratos para entrega futura de petróleo. Um especulador estimando que o preço do petróleo vai subir nos próximos meses pode comprar no dia 06.06.08 um contrato com vencimento no dia 18.05.09 Na data do vencimento o contrato é liquidado financeiramente pela diferença entre o seu valor na data da compra e o seu valor na data do vencimento. Todo os contratos são padronizados – cada um negocia 1.000 barris - e livremente negociados no pregão da bolsa, ou seja, o especulador pode vender o contrato e encerrar a operação a qualquer momento, mesmo antes do vencimento. Em nosso exemplo, digamos que o especulador comprou, na data indicada, o contrato ao preço de U$$ 137,00 por barril, num valor total de U$$ 137.000,00. Digamos também que no final do ano, em 15.12.08, o barril do petróleo bate na marca de US$ 200,00 e nosso especulador resolve encerrar a operação, pois já está satisfeito com o lucro auferido. Ele vende seu contrato no pregão da NYMEX e recebe a diferença entre o valor da aquisição e o valor de encerramento, ou seja, recebe US$ 63.000,00, sem nunca ter posto os olhos em um barril real de petróleo. Mas o mais interessante nessa operação é que para comprar o contrato futuro o especulador não precisou depositar U$$ 137.000,00 na conta do vendedor, pois a bolsa que intermedia a negociação exige apenas o depósito de U$$ 10.000,00 (uns 8% do valor total do contrato) como margem de garantia da operação e nada mais! É por isso que o mercado de futuros é o local de atuação dos especuladores, pois além de toda a praticidade de uma transação puramente financeira ele ainda permite uma excelente alavancagem de recursos: pense bem, com os US$ 137.000,00 necessários para comprar mil barris de petróleo in natura, é possível comprar dez contratos futuros no valor de U$$ 1.370.000,00 e multiplicar por dez os eventuais ganhos (e claro, multiplicar também por dez as eventuais perdas).

E agora chego à segunda premissa: no momento em que o especulador adquire o contrato futuro a U$$ 137,00 o barril ele só vai ganhar se o preço do petróleo subir. Mas quem garante que isso vai acontecer? Ninguém tem como garantir isso, porque a formação de preços no mercado é absolutamente imprevisível. É só pensar que a meros dois anos atrás era inimaginável a possibilidade do petróleo vir a ser negociado a mais de cem dólares o barril e no entanto ele vem sendo negociado consistentemente acima desse patamar nos últimos meses. Até quando? Quanto ainda vai subir? Vai continuar a subir? A única resposta honesta a estas questões é: não há como saber! No máximo é possível estimar que nas próximas semanas há uma probabilidade maior dos preços continuarem a subir do que de caírem e é com base nessa simples probabilidade que os especuladores operam e colocam o seu capital em risco constante para tentar obter um ganho. E ganhar dinheiro consistentemente, ano após ano, em condições de incerteza permanente certamente não é fácil, como podem atestar os mais de 90% de “especuladores” que deixam o mercado com uma mão na frente e outra atrás depois de tentarem a “sorte” por uns dois ou três anos. Apesar de ser um jogo de probabilidades, operar no mercado financeiro não é como comprar um bilhete de loteria ou apostar na roleta (ainda bem, pois se fosse, ninguém conseguiria ganhar nada no longo prazo), porque ganhar dinheiro com ele não depende de sorte, depende de domínio técnico, depende de um rígido controle de riscos e de um sangue frio glacial para executar estratégias de entrada e saída quase sempre completamente anti-intuitivas.