segunda-feira, 4 de maio de 2009

SEGUNDA LINHA EM REPIQUE

Os leitores que acompanham este blog a mais tempo já conhecem minha preferência por investir em ações que não integram o Índice Bovespa - os chamados papéis de segunda linha - de preferência no segmento de small e mid caps. Para que está disposto a pesquisar e a pensar por conta própria, este segmento oferece as melhores oportunidades de retorno sobre o capital investido, não sendo raros, em uma tendência de alta, casos de papéis que duplicam, triplicam ou quadruplicam de valor em poucos meses. O fato de estes papéis estarem, em regra, fora do radar dos bancos e grandes corretoras é, ao contrário do que se imagina, uma grande vantagem para o investidor independente, pois facilita o aproveitamento das inúmeras oportunidades que surgem neste segmento.

Por falar nelas, vamos prosseguir com a análise de três papéis q
ue estão permanentemente na minha lista de acompanhamento: WEGE3, ETER3 e CREM3, todos em gráficos semanais não indexados, em escala logarítmica. Em primeiro lugar, observamos o exemplar pivot de alta no papel da Weg - até parece saído de um bom manual de análise técnica! O volume financeiro em crescimento constante nas semanas que antecederam o rompimento do patamar de R$ 13,00 - fato que sinalizou a consolidação do repique - chama especialmente a atenção, pois indica um maior comprometimento dos investidores com o movimento de alta, o qual deve ainda ter um bom fôlego pela frente.

A situação não é muito diferente em Eternit, papel que v
em apresentando extremos de volatilidade desde julho de 2007. Esta volatilidade reflete-se na formação do pivot de alta do papel que atingiu sua mínima mais recente na faixa dos R$ 3,15, ponto a partir do qual teve início um movimento de alta que o levou até os R$ 5,15. Este patamar foi superado na primeira semana de março, confirmando-se, assim, o repique de alta. Note-se, porém, que o volume financeiro tem se mantido muito baixo, o que aliado à alta volatilidade - a qual demanda a colocação do stop loss a uma distância maior do ponto de entrada - reduz a atratividade do papel para investidores que - como este escriba - adotam um perfil mais conservador no gerenciamento de risco.

Por último, vemos o repique recém confirmado nas ações da Cremer
, papel que terminou a fase mais aguda da sua correção após fazer um fundo duplo entre outubro de 2008 e março deste ano - tão claro que também parece ter sido tirado de um manual de análise técnica. Aqui não se pode descartar completamente a possibilidade do segundo fundo ter marcado o final da correção, mas preferimos, por precaução, trabalhar ao menos por enquanto com a hipótese de que está em curso um repique e não uma novo ciclo de alta sustentável à longo prazo. Repique ou alta sustentável, o fato é que o sinal de confirmação para entrada veio com o rompimento do patamar de R$ 9,76 na última semana de abril, sendo preocupante apenas o baixíssimo volume financeiro que o impulsiona.

domingo, 26 de abril de 2009

FUTUROS - MINI na BM&F

Em tempos de baixa nos preços das ações, é natural que muitos investidores desse mercado (no Brasil chega a ser irônico fazer menção a "muitos" investidores - nem 2% da população opera com ações...) comecem a procurar alternativas para a alocação do seu capital. A maioria acaba optando por alguma modalidade de renda fixa enquanto aguarda uma melhora nas condições do mercado acionário. No geral, para quem soube sair na hora certa - i.e. no início do movimento de queda - não chega a ser uma má estratégia, pois no mínimo garante-se a manutenção do valor real do patrimônio. A questão é: no limitado leque de alternativas à disposição do pequeno e médio investidor brasileiro, há alternativa melhor, que permita um efetivo ganho de capital? Sim, há: trata-se da negociação de contratos futuros- mini via sistema WebTrading no pregão da BM&F.

Quatro contratos podem ser negociados neste sistema. Dois de derivativos financeiros - Índice Bovespa Mini (WIN) e Dólar Futuro Mini (WDL) e dois de derivativos agrícolas - estes com menor liquidez - Boi Gordo Mini (WBG) e Café Mini (WCF). Todos os contratos possuem prazos de vencimento pré-estabelecidos (no caso do WIN, por exemplo, o vencimento ocorre nos meses pares, na quarta-feira mais próxima ao dia 15 do mês de vencimento), o que exige atenção do investidor, pois os contratos em aberto são automaticamente encerrados no dia do vencimento e caso queira-se prosseguir na operação é necessário abrir uma nova posição. Apesar das opções de investimento ainda bastante restritas e da instabilidade do sistema da BM&F, que volta e meia gera problemas na colocação de ordens, existem duas vantagens nada desprezíveis na operação com os futuros mini: 1ª - Eles permitem uma grande alavancagem financeira e 2ª - É tão fácil operar na ponta compradora quanto na ponta vendedora, ou seja, o investidor ganha uma flexibilidade operacional inimaginável para quem opera apenas na BOVESPA.

Exemplificando com um contrato de Índice Mini. Cada ponto da cotação do Índice vale R$ 0,20 de modo que tomando uma cotação de 47.000 pontos, cada contrato futuro de índice mini vale R$ 9.400,00. Agora, o investidor não precisa depositar os nove mil e quatrocentos reais para adquirir ou vender um contrato, pois a BM&F exige apenas o depósito de uma margem de garantia de R$ 1.600 reais para cada contrato operado, seja na ponta comprada, seja na ponta vendida. Isso equivale à uma alavancagem de 5,8x. Imagine que você abre uma posição na ponta vendedora a 47.000 pontos e a encerra dentro de algumas semanas a 42.000 pontos (com o contrato valendo R$ 8.400,00). Você ganharia, descontadas as taxas de corretagem, pouco menos de mil reais - um ganho de 60% sobre os R$ 1.600 depositados como margem de garantia. Logicamente, inverte-se a operação em uma tendência de alta: ao invés de vender, compra-se um contrato.

Vê-se como a alavancagem é um potente fator de multiplicação dos ganhos, mas antes de se deixar levar pela empolgação é preciso observar o outro lado da moeda, pois assim como os ganhos, também as perdas são potencializadas. De fato, a taxa de mortalidade dos investidores em mercados futuros costuma ser mais alta do que no mercado de ações e a despeito das precauções das bolsas de futuros e das corretoras no que toca as exigência de margem, não é incomum a ocorrência de blow ups ( o investidor simplesmente perde tudo o que colocou na operação) motivados pela excessiva empolgação aliada à completa ignorância de metodologias de controle de risco. Portanto, futuros não são um mercado que se recomende para investidores que ainda não possuem uma sólida metodologia de trabalho e uma bem desenvolvida disciplina operacional - desenvolva-as primeiro operando em ações, onde o prejuízo é bem menor.

Há bem mais o que falar sobre os mercados futuros e suas especificidades, mas são assuntos para posts vindouros , pois vamos encerrando com uma rápida análise do comportamento recente do WDL, cujo gráfico semanal em escala não indexada encontra-se aqui ao lado. Observa-se o bem ordenado movimento de queda do dólar que se iniciou em maio de 2005 e terminou em junho do ano passado, com a chegada da crise internacional à economia brasileira. Seguiu-se um brusco movimento de alta, que levou a moeda até seu topo mais recente em R$ 2,78, atingido em janeiro do presente ano. A partir de então se formou uma congestão lateral com um suporte situado nas proximidades de R$ 2,22, o qual foi rompido no final de março. No presente, a moeda oscila entre R$ 2,25 e R$ 2,18, sendo provável que o eventual rompimento deste último patamar leve o dólar à níveis ainda mais baixos


segunda-feira, 20 de abril de 2009

SEGUNDA LINHA EM ANÁLISE

O repique moderado que estamos presenciando em meio à atual tendência de baixa não abrange apenas as blue chips do mercado brasileiro. Seus efeitos são também visíveis nos gráficos de muitos papéis de segunda linha, dos quais selecionamos três que este blogueiro acompanha com regularidade para rápidas análises individualizada, todas em gráficos semanais não indexados.

Começamos com ALLL11,que fez um topo em julho de 2007 - praticamente um ano antes do pico do Índice Bovespa - e confirmou a entrada em uma tendência de queda em dezembro do mesmo ano, quando varou o suporte situado ao redor R$ 22,00. A partir daí a tendência de baixa levou os preços até o fundo situado em R$ 6,40, valor claramente atingido em meio a um pânico de vendas, uma vez que foi rapidamente testado e rejeitado pelo mercado. No momento, o repique levou ALLL11 até os R$12,40, ponto no qual teve início uma correção que ainda está em curso. Qualquer expectativa de um prolongamento do repique de alta passa necessariamente pela superação desse último patamar.

Agora vamos para NETC4, papel que apresenta algumas características similares à ALLL11 - as principais delas são também ter atingido seu pico de cotaç
ão mais recente em julho de 2007 e ter ingressado em clara tendência de baixa em dezembro do mesmo ano ao romper a resistência situada nos arredores de R$ 26,00. Além disso, também atingiu um fundo de pânico situado em R$ 6,80, porém o atual repique está definido com mais precisão em NETC4: observa-se que o papel já formou ao menos três topos e fundos sucessivamente mais elevados desde dezembro do ano passado e agora está consolidando um quarto fundo que - a prosseguir o repique - deve ser seguido da superação do último topo formado no patamar de R$ 18,00.

Por último, passamos os olhos por FJTA4, papel que apresenta um comportamento de características distintas em relação aos papéis anteriores. Vê-se que após o fundo formado nos arredores de R$ 3,00, um discreto repique levou Forjas Taurus até um topo situado em R$ 4,23, o qual só foi superado recentemente, na última semana de março, fato que indicou a consolidação do repique intermediário. Note-se, porém, que os volumes negociados continuam baixíssimos, assim a cautela que deve cercar qualquer entrada na ponta compradora de um repique em meio a uma tendência de baixa, deve ser redobrada.

domingo, 12 de abril de 2009

RECONHEÇA SEUS ERROS

Como em qualquer atividade humana, a ação individual de comprar e vender ativos no mercado financeiro está sujeita a graus diferenciados de fracasso e sucesso, que dependem de uma ampla conjunção de fatores, desde aqueles sobre os quais não temos o mínimo controle - os quais podem inclusive estar fora do nosso âmbito cognitivo (os black swans de TALEB) - até aqueles sobre os quais temos o máximo de controle. Estes últimos, aliás, são bem poucos em cada nova posição aberta: análise do gráfico, preço e quantidade na ordem de compra, posicionamento do stop-loss e risco financeiro assumido em relação ao total de capital disponível. Faz sentido, portanto, extrair o máximo possível dos escassos elementos sobre os quais nossa ação se faz sentir.

O que acabo de escrever é bastante óbvio e qualquer
trader, do mais amador ao mais profissional, certamente concordará que é preciso maximizar a eficiência no manejo desses elementos do trading para melhorar os seus resultados. Mas param por aí as semelhanças entre os amadores e os profissionais... Uma das razões que levam a maior parte dos amadores a perder dinheiro consistentemente é que eles não querem se dar ao trabalho de melhorar sua performance através de uma fria e objetiva análise dos seus erros. Há pelo menos dois fatores anímicos que jogam a favor do desleixo nesse aspecto: a) a preguiça de manter um registro completo de cada trade executado, inclusive com os gráficos devidamente comentados, o que é uma tarefa invariavelmente tediosa e b) o medo, o medo de ter que encarar de frente as próprias fraquezas, que se revelam em toda a extensão no momento em que analisamos aqueles registros desagradáveis, de trades impulsivos, estúpidos, desastrados, mal executados e que quase sempre levam a um prejuízo que poderia ter sido evitado (digo quase sempre, porque às vezes um trade mal-feito pode até, por pura sorte, resultar em lucro).

O grande problema desse tipo de atitude é que ela bloqueia o desenvolvimento técnico e o amadurecimento emocional do trader: não se conhece método melhor para aperfeiçoar as habilidades necessárias para ganhar dinheiro no mercado do que a constante análise dos erros de julgamento e de execução que acometem todos os traders, mas com especial intensidade os iniciante. Invariavelmente, os que sobrevivem e progridem são aqueles que conseguem diagnosticar suas falhas capitais (p.ex., a impulsividade) e começam a trabalhar sériamente para superá-las. É pressuposto deste processo que se tenha registro detalhado do maior número possível de operações e, salvo no caso de day-traders, é bem factível ter um registro de todas elas. Alexander ELDER exemplifica muito bem essa abordagem no seu Entries and Exits, uma belíssima edição em papel couché, toda ilustrada com gráficos coloridos, na qual o autor recolheu exemplos dos registros de dezesseis traders profissionais e semi-profissionais e comentou-os um a um, apontando os principais erros e acertos tanto de trades que geraram lucro, quanto de operações que resultarem em prejuízo.

A melhor maneira de superar os obstáculos colocados pela preguiça e pelo medo (e não os subestime, são forças potentíssimas) é agir para colocar em prática uma rotina de trabalho que aos poucos vai fixando o hábito de registrar e revisar periodicamente os seus trades. O primeiro passo é criar um planilha no Excel, em que cada operação deve ser registrada com os seguintes dados: Entrada - data, preço, quantidade, custos de corretagem e valor total; Saída - data, preço, quantidade, custos de corretagem, valor total e lucro/prejuízo. O segundo passo á criar uma apresentação no Power Point, na qual os gráficos de cada ponto de entrada e de saída devem ser plotados em um slide próprio e devidamente comentados, apontando-se todas as razões que motivaram a operação. O terceiro passo é periodicamente (duas ou três vezes por ano é o suficiente) revisar com calma cada um dos trades executados: observe atentamente os que deram certo e, sobretudo, os que deram errado e tente identificar padrões - todos nós os temos - que sinalizem uma tendência a acertar ou errar em certos pontos. Não vai levar muito tempo até perceber que esta rotina é um auxílio enorme e insubstituível para a redução dos prejuízos e para a maximização dos lucros.

sábado, 4 de abril de 2009

LÍDERES DO MERCADO

A semana que passou foi marcada pela consolidação de um repique intermediário no gráfico do Índice Bovespa, de modo estamos em momento propício para análisar o comportamento de três dos principais ativos integrantes do nosso principal indicador. Começamos pelo gráfico semanal, não indexado, de PETR4, que foi claramente o ativo líder da retomada. Vê-se que após atingir o fundo em R$ 16,14 (1), o papel ingressou em um forte repique até atingir R$ 25,98 (2), para em seguida iniciar a esperada correção intermediária, a qual trouxe os preços para o patamar de R$ 22,00 (3). Depois disso, o que que se vê é uma confirmação do repique intermediário dentro da tendência mais ampla de baixa que se iniciou em junho de 2008, pois os preços superaram com consistência o topo formado em R$ 25,98.

Situação diversa apresenta-se no gráfico de VALE5. Observa-se que após atingir o fundo em R$ 20,24 (1), o papel iniciou um repique a partir de dezembro de 2008 que o levou até o patamar de R$ 33,00 (2), seguindo-se uma queda até um fundo intermediário nos arredores de R$ 25,00. No momento, VALE5 está buscando novamente o patamar de R$33,00 e sua eventual superação a colocará em situação semelhante à PETR4: confirmará o repique intermediário dentro da atual onda de baixa. Por fim, temos GGBR4, que entre outubro de 2008 e março deste ano fez um fundo duplo (1) e (3) , com o segundo fundo ligeiramente acima do primeiro. No momento, está buscando uma recuperação rumo ao topo formado entre os dois fundos (2), nas proximidade de R$ 19,00. Neste aspecto, a situação de Gerdau é análoga a da Vale, pois a confirmação de um repique intermediário dentro da tendência de baixa será dado pela superação do patamar dos dezenove reais.

domingo, 22 de março de 2009

DJI x IBOV

Após algumas semanas afastado das postagens do blog em virtude de outros afazeres profissionais, retorno hoje com uma análise comparativa do comportamento dos indíces Dow Jones e Bovespa. Como se observa no primeiro gráfico, o mais tradicional indicador do mercado norte-americano chegou a romper, no final de fevereiro, o importantíssimo nível de suporte situado nos arredores de 7400 pontos, porém voltou a fechar acima desse nível na semana que acaba de passar. A questão agora é saber se o rompimento foi apenas um movimento de exaustão - uma kanguroo tail se pensarmos em um gráfico mensal - sinalizando o esgotamento da primeira onda de baixa - que nos EUA teve início no final de 2007 - ou se, pelo contrário, haverá após o presente repique uma retomada do movimento de baixa capaz de romper em definitivo os 7400 pontos, rumo ao teste do próximo e muito frágil suporte situado em 6300 pontos. Embora o rompimento tenha se dado com volume recorde e o repique esteja seguindo com volume reduzido, o que em princípio indica que a tendência de baixa ainda não estaria esgotada, é recomendável aguardar mais algumas semanas por uma definição mais clara da tendência de médio prazo do Dow Jones, já que o início de uma tendência intermediária de alta não pode ser descartado.

Em relação ao IBOV, a situação é menos duvidosa, pois desde janeiro os preços parecem ter firmado um repique intermpediário que - como já alertamos em posts anteriores - normalm
ente segue-se a uma primeira onda de baixa. Observe-se que dentro deste repique já temos formados um topo e um fundo e a eventual superação dos 42.700 pontos deve confirmar a sua continuação. Não é possível prever quanto tempo o repique durará ou até que ponto se extenderá, mas é certo que qualquer iniciativa para aproveitá-lo deve ser cercada por alguns cuidados básicos: posições de dimensões conservadoras, com stop-los curto e trailing stop ajustado com freqüência. Precauções nunca são demais quando estamos operando dentro de uma tendência principal de baixa, que ainda deve passar por uma nova onda de quedas antes de se esgotar.

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

THE MISBEHAVIOR OF MARKETS

A característica mais peculiar de um gênio científico é a sua capacidade de tirar conclusões objetivas, precisas e inéditas sobre como um determinado aspecto da realidade funciona. Pense nas obras de Copérnico,de Newton ou de Einstein como ilustrações dessa capacidade única e rara. Raríssima, na verdade: devo me considerar muito premiado, pois em trinta e dois anos de vida, e em apenas um terço dela mantendo vínculos acadêmicos constantes, já tive o privilégio de conhecer pessoalmente uma pessoa que pode aspirar a essa classificação. Além da escassez, outra característica marcante de boa parte dos gênios - tão marcante que chega a compor o estereótipo - é a dificuldade que seus insights inovadores encontram em ser aceitos pelo establishment "bem-pensante", especialmente quando contradizem as verdades estabelecidas e zelosamente guardadas por aqueles que fazem carreira explorando-as.

Para não fugir ao figurino, esse roteiro tem sido rigorosamente seguido quando se trata de falar em BENOIT MANDELBROT, um dos maiores gênios matemáticos do século XX e deste que se inicia (pois ele ainda está bem vivo), cuja imensa curiosidade levou-o a explorar as mais diversas áreas da ciência: física, computação, hidrologia, biologia, psicologia e - felizmente para nós - finanças. MANDELBROT vêm se debatendo a décadas contra as premissas que embasam a moderna teoria financeira, a começar pela tão estimada hipótese do mercado eficiente, e em 1980 publicou a primeira edição de uma obra inteira dedicada ao tema, muito apropriadamente intitulada The Misbehavior of Markets (hoje na terceira edição, bastante atualizada em relação à primeira). Sua compreensão dos mercados está amparada em um ramo da matemática que foi praticamente criado por ele: a geometria fractal. De acordo com a própria definição de MANDELBROT, fractal "é uma forma geométrica irregular ou fragmentada, que pode ser separada em partes, cada uma das quais é (aproximadamente) uma cópia reduzida do todo". É possível obter uma compreensão intuitiva de um fractal observando as duas figuras ao lado. Primeiro o "Conjunto de Mandelbrot", um fractal que vai se reproduzindo indefinidamente, assumindo as mais imprevisíveis e espetaculares formas. Apesar disso, note que a cada vez que se altera a escala espacial do fractal - cada vez que se faz um zoom em qualquer de suas partes - acabamos encontrando uma figura semelhante ao todo. O segundo exemplo é o "floco de neve" de von Koch. Observe como uma única forma geométrica, o triângulo eqüilátero, vai se reproduzindo para formar uma figura parecida com um floco de neve. O interessante é que se fracionarmos esse floco inúmeras vezes até chegar novamente a um único triângulo, veremos que suas partes, em qualquer nível de fracionamento, são incrivelmente semelhante ao todo. Observe também que em ambos os exemplos, as figuras geométricas são altamente irregulares e, com efeito, um dos mais freqüentes usos práticos da geometria fractal é a mensuração de quão turbulento e irregular é um objeto sob análise. Formas fractais abundam na natureza, por isso a análise de suas propriedades matemáticas é extremamente útil para modelar fenômenos naturais e para obter uma melhor compreensão das propriedades particulares dos fenômenos analisados, como por exemplo, a formação geográfica de uma área litorânea, a turbulência da atmosfera no meio de uma tempestade ou a concentração de jazidas de petróleo no subsolo.

Pois bem, o primeiro insight importante de MANDELBROT na área financeira ocorreu em 1961 quando ele resolveu analisar as variações de preço do algodão em um espaço temporal de 100 anos e se deu conta que o comportamento dos preços desse ativo em nada se assemelhava à uma distribuição normal, conforme prescrita pela "Hipótese do Mercado Eficiente": a variância era altamente irregular e cada dado novo inserido alterava seu valor; grandes e imprevisíveis "saltos" nas cotações tornavam impossível reduzi-las a uma modelagem estatística amparada na curva de Gauss. Em outras palavras: os dados empíricos disponíveis contradiziam as premissas que apoiavam o mainstream da ciência das finanças. A variação de preços tinha, isso sim, propriedades matemáticas muito semelhantes às de um fractal:
  • A formação dos preços parecia guiada por uma power law, com alguns poucos dias de trading em um determinado ano concentrando a maior parte das variações positivas ou negativas;
  • Além de bruscas, as variações de preço do algodão eram muito imprevisíveis, uma imprevisibilidade análoga à imprevisibilidade das formas geométricas que vão surgindo conforme um fractal complexo se desenvolve;
  • Não importa a escala de tempo utilizada - diária, semanal, mensal - as mesmas propriedades eram observadas em qualquer delas, do mesmo modo que a parte se parece com o todo em um fractal geométrico;
Ao longo de anos de pesquisa, MANDELBROT confirmou estas constatações observando as variações de preços de outras comodities e também de ações e índices. A partir daí desenvolveu uma compreensão heterodoxa - e por isso mesmo muito realista - do funcionamento do mercado financeiro, que com característico bom-humor ele resume nas suas 10 Heresias das Finanças:
  1. Os mercados são turbulentos. As variações de preços apresentam propriedades escaláveis, que as fazem propensas à grandes e bruscas variações.
  2. Os mercados são muito, muito perigosos. Mais perigosos do que a teoria financeira ortodoxa imagina. Aqui temos uma conseqüencia da primeira heresia: a turbulência é perigosa, ela provoca giros imprevisíveis e repentinos nas cotações. É muito difícil prevê-la, difícil de se precaver contra ela e mais difícil ainda de lucrar com ela.
  3. Fazer o timing do mercado é importantíssimo. Grandes perdas e grandes ganhos concentram-se em curtos períodos de tempo.
  4. Os preços freqüentemente dão saltos, não planam. Isso aumenta ainda mais o risco. O padrão de formação de preços nos mercados não é um padrão contínuo, como uma suave curva em gráfico cartesiano de livro-texto. Os preços saltam e "gapeiam" para cima e para baixo o tempo todo.
  5. Nos mercados, o tempo é flexível. Os mercados deformam a percepção de tempo, cuja passagem parece se acelerar em momentos de grande volatilidade - mercado rápido - e se torna mais lenta em momentos de baixa volatilidade - mercado 'sedado'.
  6. Os mercados em todos os lugares em todas as épocas funcionam de maneira parecida. MANDELBROT acredita que todos os mercados possuem uma atividade interna endógena, i.e, um nível de atividades que independe de fatores externos para atuar - pense em um market maker, por exemplo - que exerce influência sobre a formação dos preços. Essa atividade endógena seria a raiz da invariância em algumas características de funcionamento dos mercados, as quais são observáveis em qualquer período histórico e em qualquer local.
  7. Os mercados são inerentemente imprevisíveis e as bolhas especulativas são inevitáveis. A mesma escalabilidade responsável pela turbulência no mercado é um elemento importante na formação de bolhas especulativas, afinal, se as variações de preço são selvagens e imprevisíveis, quem garante que depois de subir 1000%, uma ação não possa subir mais mil? É tão imprevisível quanto a possibilidade de voltar à estaca zero.
  8. Os mercados iludem. Investir o rico dinheirinho apenas com base em padrões de análise gráfica é coisa para os corajosos, pois é fácil sermos enganados pela nossa tendência natural de procurar padrões em tudo o que vemos. O mercado é especialista em nos enganar, formando padrões que no mais das vezes se revelam como ouro de tolo quando tentamos explorá-los sistematicamente.
  9. Prever os preços pode ser perigoso, mas você pode estimar as probabilidades da volatilidade futura. A análise empírica demonstra que grandes variações de preços - para mais ou para menos - tendem a ser seguidas por novas grandes variações. Do mesmo modo, pequenas variações tendem a ser seguidas por outras pequenas variações. Isso indica que a volatilidade tende a se agrupar em clusters que, ao menos no curto prazo, podem ser antecipadas.
  10. Nos mercados financeiros, a idéia de "Valor" tem valor limitado. De acordo com MANDELBROT, a imensa dificuldade em avaliar objetivamente o valor intrínseco de uma empresa, de uma comodity ou de uma moeda, torna a noção de "Valor" muito pouco útil para operar o mercado. Ao invés do valor, o móvel principal das ações do mercado é a arbitragem, a exploração de diferenças relativas de preços no tempo e no espaço. A operação de arbitragem não leva em conta um valor intrínseco, procura apenas detectar disparidades e se aproveitar delas para gerar lucro.
Qualquer trader com razoável experiência de operação nos mercados financeiros já teve ter percebido intuitivamente algumas dessas características apontadas por MANDELBROT, mas ele leva esse conhecimento a um patamar muito mais elevado, através do estudo e da análise metódica e sistemática do modus operandi dos mercados financeiros, sempre a partir de dados reais e não das premissas imaginárias e freqüentemente falsas (porque contraditórias com os dados fonecidos pela realidade) que amparam o grosso da atividade acadêmica nessa área. Como o próprio autor reconhece, até agora a geometria fractal aplicada às finanças ainda não descobriu uma maneira prática e segura de ganhar dinheiro no mercado, mas ao menos permite que tenhamos uma visão mais precisa de seu funcionamento, o que aumenta nossa probalidade de não sermos arrasados por ele. Não é pouca coisa na época em que estamos vivendo.